Uma Caneta ao Chão


Ele me viu. Preferia não ter visto. Mas me viu.

Olhou pra mim com os olhos semicerrados, pôs as mãos no bolso e voltou-se em direção a sala, a qual tinha acabado de sair.

Estava de costas. Prendeu o cabelo, escostou-se na parede. Fingiu que pensava em algo serio.

Ele sorriu.

Mas era mais de nervoso e medo do que, de fato, satisfação.

Ele continuou a explicar.

Sua matéria era simples e cômoda. Já que a tinha de cor, pelos inúmeros anos de repetição.

Estava frio. Ele fechou a jaqueta. Esperou a hora passar como se não se importasse com o seu papel naquele lugar. O que não era verdade. Ele se importa muito, mas não tinha habilidade em demonstrar suas emoções.

Ele se levantou. Caminhou em minha direção como se esperasse não precisar concluir o caminho. Rezando baixinho para o milagre da minha não existência, na esperança de que os últimos meses não tivessem passado de 20 minutos de sono conturbado.

O sinal tocou.

Ele respirou leve e apertou o passo. Passou invisível por meu olhar pesado que se perdia agora no movimento agressivo que se formava no corredor.

Entrou ligeiro em seu refugio provisório. Avistando seu tesouro (permitido) e abrigando-se na segurança de ainda a ter as mãos.

Eu estava na porta.

Sorria... Mas era mais de cinismo do que, de fato, provocação.

Queria entender minha condição que mudava constantemente em seu conceito de afeto ilícito.

Ele parecia não querer quer eu compreendesse. Talvez porque então, a lógica trairia o sentido desconhecido que escolhemos a essa nossa quase historia... Não de amor... Mas querer indiferente ao juízo, entrega à possessões incompreensíveis.

Ele tinha desejado não saber.

Invado seu domínio e lhe cumprimento a ignorância.
Ele se sente confortável assim. Mas quer que eu não mereça confiança.

Ele me ama. Á sua maneira rude e assustada. Declarada pelos dedos que me alcançam ao sair da sala, que o medo que lhe causo em hora dessa é sua maior e mais ousada fonte de estima.

Palco

Ela encena boas verdades
Sorrisos deslizantes pelo corpo
corpos suados que marcam a parede
parede fria que esconde o quarto desarrumado,
jogado,
usado sem medo ou pudor num teatro de homens e feras.

Disputa.
Ele a joga contra o móvel frio. Ela não se incomoda.
Ela segura com força a cabeça dele enquanto ele se abaixa...
Percebendo sorridente suas paredes molhadas...
Ele a devora enquanto ela morde os lábios.
Ele sedento e ela faminta... Ou o contrário.

Ela está nua...
Agora frágil e expectante.
Ele, trêmulo...
Desvia a atenção de seus olhos cativantes

O Silêncio imacula o ato.
Mescla a violência dos sentidos
à ternura do toque indelével...
Na pele agora a mostra e insinuante.

Mãos meigas agarram com fúria a cintura da moça,
ela o sente vir rasgando velhos conceitos,
deixando medos e pelos eriçados
enquanto a invade ansioso e rude.

Ele a penetra com tal força que a machuca.
Ela não se importa.
Se vira, se volta, contorce, distorce...
Alcança...

Disfarça

Há censura na cena que protagoniza

Concluindo do perigo que representa

A justa medida do prazer que causa.

Nudez Amarela



Olhares magos consumiam sua qualidade de moça.

Terna...
 

Domínioque jorrava-lhe dos hábeis dedos de criança..

Insólita...

Dança, enganando os deuses em sua ingenua melúria

crença deturpada ao sentido da razão

mantém discreta o prazer de sua função

em enorme potencial lúbrico

e cruel habilidade de se adaptar.

Nudez Cinza


Não era mais que fino tato sobre os ossos...

Pêlos finos retirados com cuidado,

Cobrança refletida em olhos rasos

e penosamente vagos.

Caminhava flutuante entre as cismas

Namorava-se em sonho conturbado

diante de um espelho fosco e cinza.

Mas era linda e oca como deveria ser.


Nudez Vermelha



O umbigo da moça era fundo...

no fundo do poço ela estava.

No fundo da noite, perdida

No fim de um amor, esquecida

De dentro de si, nova vida

escorregava.

A Regra dos Passos de Antonio


Naquele dia eu parei pra ver Antonio passar. Antonio passava todo dia e eu nunca parava pra ver, talvez por já saber que amanha passaria denovo e passava sempre igualzinho, mas nunca parava não... no máximo errava o caminho, mas logo acertava o passo e voltava pra sua linha, fazendo tudo direitinho pra ser um homem normal.
Antonio nunca falava, achava que falar lhe encurtava as passadas e por momento se esquecia que tinha que passar rapido pra poder passar de novo... e eu nunca olhava Antonio passar.
Mas naquele dia eu parei pra ver Antonio, e vi que ele me olhava grande e arrastava cada pisada querendo alongar o caminho, tentando entender porque eu não sabia entender que ele sempre passava porque eu sempre ficava parada, esperando o dia em que Antonio passaria e eu resolveria olhar. Não pra ver ele passando, mas pra ver ele me olhando e saber que eu to gostando de Antonio me gostar.

Água Branca


Era uma vez num distante local próximo,
Uma pedra parada a beira de um buraco no centro da estrada,
Indecisa em qual ou que caminho tomar,
Receosa de cair ou ficar,
Decidiu...
Mergulhou e assim...
Viu-se dentro de um poço abandonado,
Repleto de si por todos os lados,
Angustiou-se, mas também fortificou-se.
Alojada em um balde de madeira sentiu-se mais segura.
Esperançosa de sair daquele local escuro que mais parecia um álbum de família,
Foi quando sentiu o estremecer toma-lhe conta.
Na verdade era o estremecer do balde que começava a ser içado.
Uma senhora que havia se perdido e agora sofria por culpa da sede.
Ela admirou-se com a beleza da pedra que morava dentro daquele encardido balde,
Amarronzado pelo ciclo do eterno,
A senhora segurou a pedra com força, colocou-a de lado enquanto matava o sedento desejo.
Levou a pedra ate sua casa,
Limpou-a e deu-lhe espaço na sua caixinha...
Toda noite contava-lhe segredos...
Assim descobria coisas suas e sentias com verdade
Coisas que o tempo de desejos havia sido encoberto pela poeira dos eidos.
Mas que aos pouco a trazia de volta a vida.