Ele estava molhado... do outro lado de nossa cachoeira (improvisada) sorria pra mim.
Seus olhos ardiam como os meus... a espuma em minhas maos explicava o porque. E se espalmavam agora no peito dele, justificando o que, inevitavelmente viria em seguida.
Ele continuava sorrindo. Eu lhe acompanhava o riso. Ele menino e eu moleca. Como havia definido segundos antes.
Eu gosto do cheiro dele. Cheiro que a agua não leva embora, que sabao não disfarça e o esforço não rouba...ligeiro. Era cheiro de infancia que ele tem. Infancia esperta que digo. Ele tem e exala forte esse cheiro. E eu inspirava, inspirava, até que em algum momento impreciso, me vi num jardim florido. O jardim já estava lá antes, mas agora eu via em cores dispostas.
E me embebedava em suas flores...
A tinta delas em meu vinho em seu cálice...
Eu bebia as cores de sua arte.
Ele pintava seu Sol em (Meu) Jardim...A chuva chovia nele e ele chovia em mim.
Beijos com efeito de cascata...
Enchia o copo, o corpo e alma...transborda...
Eu gostava de estar ali. Ele disse que me queria ali.
Eu agradecia a minha maneira sorridente e boba.
Isso...boba mesmo...mas algo me disse que ele gosta de minha bobice moleca...
e eu gosto de dizer bobagens com essa meninice quase incomoda.
Mas gostava mesmo era de incomoda-lo com os pés, com as mãos,
e se as flores caiam, restava-me apenas morder-lhe os incomodos.
Barulhinho bom que dava...
Avança suave preenchendo a batida do silêncio.
Ele decide dançar.
Pra mim, comigo e em mim...
A agua cai...a chuva insiste
música forte aumenta o ritmo...
Joga as flores ao chão gelado
ao chão ele está...molhado
sobre ele estou eu...cantando.
A Chuva pára.
a sede seca as costas e os cabelos...
A necessidade justificada em saudade
A ansia da pele em espera...não espera
E Lá está a mesa, o colchão, as paredes...
pode se fazer um rastro...até a chama
que chama acesa enquanto ainda é chama
e faz com que a dança continue...quente
Sento ao chão...terra ao chão...chão de corredor
Mas era corredor de casa de poeta...poeta menino.
Menino-Sol...tomou chuva HOJE.
Eu o tentava enxugar, mas ele pingava. E os pingos dele mais a terra me sujavam toda.
Entendi que ele queria mesmo era voltar à cachoeira...
Para derrubar as flores, me pintar de flores...e ouvir a música...
Para poder dançar mais outra vez...