Não importa se é domingo... a cama nunca é compartilhada.
Ao menos não a sua.
Levanta nua, se espreguiça leve e senta de qualquer jeito na cama.
Um vento súbito entra pela janela acostumada a dormir aberta, e, no exato momento a ser captada, esvoaça-lhe os cabelos quase que propositadamente, de modo a esconder-lhe a face e roubar-lhe os últimos resquícios de vida existente em suas feições, tornando-a tão cinza e sólida quanto a mobília.
Já de pé ela calça os sapatos pretos, aqueles de salto, e caminha em direção a sala que a aguarda vazia como resto da casa.
Não há muitos fios ou cores nessa parte da casa, apenas alguns móveis que se encaixam nas paredes como peças de lego.
Há também uma grande janela por onde o início da manhã envia alguns raios de luz que se mesclam agora à fraca iluminação artificial.
Sua vista de prédios e sacadas denuncia a condição de apartamento ao local.
Em frente a janela uma poltrona, única, acostumada ao mesmo corpo o recebe ainda nu, enquanto este se atenta ao tedioso vazio da manhã que se passa além de seu interior urbano.
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